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Terraplanismo

Histórico

Desde a gênese da história da humanidade, a Terra e as estrelas recebiam atenção do homem. Mapas antigos, como os encontrados nas cavernas de Lascaux, na França, datado de ~14.500 a.C., mostram representações das estrelas Vega, Deneb, Altair e do aglomerado de estrelas Plêiades 1). Um período de não definição e/ou representação da forma da Terra é marcante na história da humanidade. Nas origens dos registros, havia a concepção de que a Terra fosse plana, com a evolução das ciências e tecnologias, em especial a cartografia, essa concepção terraplanista tornou-se obsoleta.

A concepção terraplanista surge na Idade do Bronze 2), na Pré-História, com elogiáveis representações planas da Terra, até o período da Grécia Antiga. A Terra foi descrita como plana por gregos como Homero (1874) e Hesíodo. Destacados filósofos gregos, em especial anterior a Sócrates, descreviam a Terra como sendo plana, além de sumérios e babilônicos. Houve teorias de que a Terra era um disco flutuando no oceano. Os egípcios acreditavam que o universo era uma ilha plana cortada por um rio, sobre a qual estava suspensa uma abóbada sustentada por quatro colunas. Havia povos antigos com crenças que fugiam de uma forma plana ou redonda, como alguns povos chineses diziam que o universo era como um ovo na vertical, onde a terra seria como a gema, flutuando sobre o mar (a clara do ovo) e dentro do ovo havia um gigante que cresceu e rompeu a casca separando o céu da terra. Tales de Mileto acreditava que a Terra flutuava na água como um tronco. Já Anaximenes, Anaxamoras e Democritus defendiam a Terra como plana e que o ar era quem a sustentava 3). Pitágoras( VI a.C) foi um dos primeiros filósofos gregos a apresentar a ideia da Terra esférica, Aristóteles (384 a.C – 322 a.C.), aluno de Sócrates, objetivando fundamentar a esfericidade da Terra apresenta discussões sobre o movimento de corpos e observações do eclipse lunar, onde atribui que a forma curva do eclipse é resultante da interposição da Terra e, portanto, essa deveria ter uma superfície curva e forma esférica 4).

No livro sobre Projeções Cartográficas, encontra-se a seguinte citação:

Posteriormente, durante a Idade Média, a superfície da Terra voltou a ser considerada como plana, prevalecendo esta ideia até o ressurgimento da obra de Ptolomeu e a subsequente era dos descobrimentos no século XV, quando a representação da superfície da Terra reverteu à forma esférica. (BAKKER, 1965)

No século 4 a.C., a ideia de uma Terra plana foi rejeitada com base em evidências empíricas, como o fato de que o céu muda e novas estrelas aparecem conforme o homem se move sobre sua superfície. Na Idade Média, Aristóteles era uma autoridade inquestionável, assim como o geógrafo Ptolomeu, seu seguidor, e ambos sustentavam que a Terra era esférica. Por esta razão, autores cristãos como Santo Agostinho, no século V, Isidoro de Sevilha e Beda o Venerável, no século VII, ou Tomás de Aquino, no século XIII, e nomes da modernidade como Copérnico, Galileu, Colombo e Fernão de Magalhães afirmaram sem dúvida que a Terra era uma esfera.

O navegador Cristóvão Colombo, o Italiano, mas a serviço da Espanha, foi o pioneiro das viagens transatlânticas. Apostava na teoria de que a Terra era redonda e pretendia encontrar um caminho para as Índias navegando sempre para o oeste. Acabou descobrindo a América, em 1492. Mas mesmo em sua época, Hawking e Mlodinow 5) insinuam ser comum encontrar pessoas que acreditavam ser plana a figura da Terra.

Disseminada no século XIII, durante a Idade Média, a Santa Inquisição era dirigida pela Igreja Católica Romana. Ela era uma espécie de tribunal religioso que condenava todos aqueles que eram contra os dogmas pregados pela Igreja Católica ou que eram considerados uma ameaça às doutrinas. Eles eram denunciados, perseguidos, julgados e condenados. Com isso, muitos cientistas foram perseguidos, censurados e até condenados por defenderem ideias consideradas contrárias às da igreja. Um deles foi o italiano Galileu Galilei, que conseguiu “escapar” da fogueira por pouco com a sua teoria do Heliocentrismo, contrária à da Igreja, que acreditava que a Terra ficava no centro do Universo.

Nos séculos 16 e 17, geógrafos e astrônomos repudiaram muitas ideias herdadas da Idade Média para construir uma nova visão de mundo, a do Renascimento. No entanto, o centro da polêmica era a localização da Terra no universo, não a tese da Terra plana, que ninguém defendia. Nem a Igreja. Na verdade, Galileu foi acusado de heresia por sustentar que a Terra gira em torno do Sol, negando assim o sistema ptolomaico, ou seja, a doutrina oficial da Igreja, segundo a qual a Terra é uma esfera imóvel rodeada por outros corpos celestes esférico girando em torno dele. Mesmo no século XVIII, quando filósofos iluminados acentuavam as denúncias das “imposturas supersticiosas” da Idade Média, ninguém incluía entre elas a crença na terra plana.

Em 1849, Samuel Rowbotham, sobre o pseudônimo de Parallax, publicou o panfleto Astronomia Zetética em que defendia a terra plana baseado em seus experimentos. Um desses experimentos é o do Rio Oldbedfort, que consiste em provar que em um rio plano, calmo e longo, se a terra for plana, poderia-se ver um alvo a uma grande distância sem nenhuma diferença de elevação enquanto se a terra for esférica ficaria claro dentro os primeiros quilômetros a diferença de elevação do alvo. Após a morte de Rowbotham, Elizabeth Anne Mold Williams criou a sociedade zetética universal em 1893 e também um criou um jornal, earth not a globe review (revista terra não um globo).

Na Grécia Antiga

As questões e indagações filosóficas sobre o formato da terra já era notado na Grécia Antiga. Alguns dos diálogos de Platão revelam uma indagação e alguns argumentos por parte de Aristóteles acerca de tal assunto, afirmando de fato que a terra seria esférica, um dos trechos dos argumentos pode ser visto a seguir: “Outro testemunho disso [a figura esférica] é o dos fenômenos que captamos com nossos sentidos. Se não fosse assim, os eclipses da lua não mostrariam segmentos como o vemos. Por ocasião de suas fases mensais, assume todas as modalidades de secções (é seccionada pela reta, a convexa e a côncava); entretanto, durante os eclipses seu contorno é sempre uma linha curva. Daí, sendo a causa dos eclipses a interposição da Terra, é de se presumir que sua forma seja devida à forma da superfície terrestre, que é esférica” 6)

Terraplanismo no século XX

Contexto

Até aproximadamente primeira metade do século, vivia-se em um mundo que com o advento da eletricidade cada vez mais ficavam mais precisas as medições, surgiam novas tecnologias e com tudo isso o mundo cada vez mais se voltava para a ciência como objeto de fascínio, todos os avanços tecnológicos e sensoriais culminaram na suposta chegada do homem a lua.

Nesse contexto, de tecnologias primitivas mas ainda não confiáveis, diversos grupos surgiam com o intuito de provar ou refutar as diversas teorias formuladas no passado. Pensamentos negacionistas, muitos organizados, influenciados por literalismo bíblico, existem há tempos, a International Flat Earth Society foi fundada em 1956.7)

Flat Earth Society e controvérsias

Esse grupo se aproveitava dos trabalhos produzidos no final dos 1800's, fomentada por uma Belle époque de caráter cientificista.

Como o trabalho publicado em 1912 “The Enlightenment of the World” (Abizaid, John George), que alega que a terra é plana e estacionária, com todos os outros astros em movimento constante.

Destaca-se que após a fundação desta sociedade, em 1961, o primeiro homem viajou ao espaço, e isso não afetou em nada a convicção e ideias de Shenton. Essa sociedade sucedeu a Sociedade Zetética, e tinha menos influência da religiosidade e mais influência da ciência alternativa e tecnologia. Mas, o que realmente foi o estopim para as motivações e combustível para os terraplanistas da época foi o experimento do nível do Rio Bedford, efetuado em 1838 por Rowbotham.

Este experimento foi essencial para dar relevância a esse tema e recebeu holofotes quando foi feita uma aposta envolvendo um apoiador de Rowbotham chamado Hampden e o naturalista Alfred Russel Wallace. Alfred venceu a aposta, aplicando conceitos da física para decifrar o segredo do experimento e não cometendo o mesmo erro feito por Samuel. Hampden publicou um artigo declarando que a aposta não era válida pelo naturalista ter trapaceado, e isto acarretou em processos jurídicos, e assim conquistou ainda mais adeptos para o terraplanismo. Isto motivou a execução de novos experimentos para provar que a terra era realmente plana, e publicados em grandes revistas da época.

Após a morte de Shenton em 1971, Charles Johnson assumiu a liderança e retornou com ideais religiosos aos princípios da Sociedade, e ao entrar em conflito com a ciência, aumentou ainda mais os seguidores e mais ainda após publicar a famosa Flat Earth News, transformando o grupo de uma pequena coleção de teóricos da conspiração em uma organização com milhares de membros.

Frases famosas de Johnson na História

“Se a Terra fosse uma bola girando no espaço, não haveria para cima ou para baixo”, disse Johnson a David Gates e Jennifer Smith para a Newsweek em 1984.

Quanto sócios indagando sobre o programa espacial diziam “Você não pode orbitar uma Terra plana “, Johnson disse para a Science Digest em 1980.”O ônibus espacial é uma piada - e uma piada muito ridícula. “

Declínio da Sociedade, morte de Johnson e legado

A sociedade foi desfeita em 2001 após a morte de Johnson, porém o legado e ideais ainda continuam vivos depois do século XX, onde teve grande força.

Terraplanismo no século XXI

No século XXI, o terraplanismo ressurge potencializado por redes sociais como YouTube e Facebook. Uma narrativa comum dentre aqueles que acreditam que a Terra é plana é a de que quando entraram em contato pela primeira vez com o terraplanismo, muitos não acreditaram e então passaram a fazer suas próprias pesquisas, afim de desmascará-lo. Muitos já se interessavam por teorias de conspiração quando se depararam com sugestões do YouTube e Facebook. As ferramentas de sugestão dessas plataformas foram desenvolvidas de modo a gerar um maior engajamento nas redes, o que significa que, quanto mais tempo as pessoas passarem nas redes, consumindo conteúdo - não importa de que natureza -, vendo anúncios, melhor. Outro fenômeno notório é a utilização de bot (versão resumida da palavra inglesa robot), uma potente ferramenta de automação e divulgação de fake news, auxiliando na propagação e até mesmo criação de notícias devido a maneira que seus algoritmos de curadoria de conteúdo funcionam. Essas plataformas, além de propícias a formação de câmaras de eco ideológica (filtros-bolha), disseminam o terraplanismo por meio da recomendação desse conteúdo a usuários particularmente suscetíveis aos seus argumentos, isto é, essas plataformas podem reforçar o viés de confirmação de alguns usuários. Isso se dá porque há uma tendência das pessoas acreditarem em evidências que corroboram suas crenças e as redes sociais acabam por amplificar esse comportamento. Vale ressaltar que as redes sociais também serviram como um ponto de encontro para pessoas que partilham das mesmas crenças, o que também contribuiu para a difusão do terraplanismo.

Além disso, podemos apontar como um forte fator para a ascensão das teorias terraplanistas no séc. XXI, a falta de contato entre a população e os acadêmicos. Por muitos, a ciência é vista como algo muito complicado e até chato, complexo para ser mais exato. Isso acontece devido a falha na comunicação entre ambos. Por muito, os cientistas utilizam um vocabulário mais técnico, sendo difícil para a população em geral entender o que está sendo dito. Além da haver a falta de interesse dos pesquisadores/acadêmicos em se adaptar para ensinar a população, e assim, preferem se isolar em seu “Torre de Marfim”.(Expressão a qual, diz respeito a aqueles que apenas querem guardar a informação para aquela classe de pessoas, considerando as outras como ignorantes em relação a estes assuntos.). E dessa forma, as pessoas acabam descredibilizando a ciência, passando a acreditar nessas teorias que podem ser explicadas de forma mais simples, e por mais que possuam falsas informações, elas parecem mais críveis pelo fato de serem de fácil compreensão. Isso está mudando, uma vez, que muitos canais de ciência têm surgido, mas, ainda não se resolve o problema. A ciência demorou muito para se adaptar, e agora sofre para criar esse contato com as população.

Terraplanismo no Brasil

Com um maior engajamento nas redes sociais, grupos que reúnem adeptos ao terraplanismo passam dos 70 mil membros no Brasil, os quais argumentam, além da Terra ser plana, que o Sol e a Lua encontram-se mais próximos da Terra e sejam menores do que é amplamente divulgado pelos cientistas e as instituições. Para isso, acusam grandes centros de pesquisa, como a AEB, Nasa e ESA de enganarem a humanidade, manipulando fotos e vídeos que mostram a Terra geoidal.

Com o objetivo de se reunirem fora da internet, uma convenção nacional foi organizada - a Flat Con. A conferência ocorreu no dia 10 de novembro de 2019, em São Paulo, e contou com a presença de 400 pessoas. Durante o evento, os integrantes do grupo afirmaram que o homem nunca foi à Lua e que “tudo era feito em estúdio”. Em relação às imagens dos astronautas, “Eles colocavam uma cordinha na nuca dos caras e puxavam para o alto, para dar a impressão de que estavam flutuando”.

No cenário brasileiro, uma pesquisa realizada pelo DataFolha em 2019 mostrou que 7% dos brasileiros acreditam que a Terra seja plana, isto é, cerca de 11 milhões de pessoas, sendo o percentual maior entre aqueles abaixo de 25 anos e acima de 60 anos. Também se mostrou inversamente proporcional ao nível de escolaridade e maior entre católicos e evangélicos.

Ao fazer uma simples busca no Google Trend podemos ver que nos últimos 10 anos a busca pelo conteúdo terra plana cresceu demais e além de que, ao observar o interesse pelo assunto por região vemos que o Brasil é o país onde o tema é mais buscado em todo o mundo.

Como o Terraplanismo atual se relaciona com teorias da conspiração

Teoria da conspiração é uma hipótese explicativa ou especulativa que sugere a existência de pessoas ou até mesmo uma organização que manipula a sociedade com teorias falsas sobre um assunto, a fim de acobertar uma verdade que seria ilegal ou prejudicial. O terraplanismo surgiu como uma hipótese ao formato do planeta Terra séculos atrás e apenas atualmente encaixa-se como uma teoria da conspiração, pois essa hipótese virou um movimento, cujos líderes acusam empresas aeroespaciais e instituições governamentais de mentir para a população com a teoria científica da esfericidade da Terra.

Nos últimos anos, teorias da conspiração que desvalorizam o conhecimento cientifico têm ganhado cada vez mais adeptos, por mais que cientistas utilizem o método científicos (conjunto de regras básicas dos procedimento para produção de conhecimento cientifico). Esse crescente descrédito no método científico, é causada por diferentes fenômenos e erros .

Um deles é o Efeito Dunning-Kruger: fenômeno psicológico que leva indivíduos com pouco conhecimento sobre um assunto a acreditar que dominam tal assunto, o que por sua vez acaba a fazer com que os mesmos não reconheçam seus erros e ineficiência do conteúdo produzido, pois não tem conhecimento suficiente para reconhece-los.

Outro problema é que, na teoria da conspiração podemos dizer que ela surge por meio de medos de inimigos imaginários e quebra da realidade e isso acaba sendo disseminado e a partir disso as pessoas começam a confiar em discursos e líderes que acreditam na mesma verdade. Porém não é possível provar se uma teoria da conspiração é falsa, pois qualquer evidencia que surgir será tratada como parte da teoria da conspiração.

Também há o problema de comunicação, os cientistas tem dificuldade de mostrar a população leiga os resultados de suas pesquisas. De fato, uma pessoa que não tem conhecimento (ou possui pouco) sobre o tema pesquisado provavelmente não vai entendê-lo. Porém, os cientistas deveriam, ao dar entrevistas ou escrever sobre suas descobertas, utilizar um vocabulário menos acadêmico e mais simplista, mas sem deixar de esclarecer a essência do que foi descoberto. Ao contrário disso, os cientistas estão muito acostumados a discutir ciência apenas com seus pares e quando chega o momento da divulgação na grande mídia, o discurso não é adaptado e muitas pessoas acabam tendo que acreditar sem realmente ter um pensamento critico sobre o assunto. Entretanto, há aqueles que vão buscar sua própria resposta como afirma a Hannalore Gerling-Dunsmore (astrofísica da Caltech) “Por que dizemos que a Terra é redonda? Se ninguém te der uma resposta satisfatória, você pode procurar uma alternativa”.

Além do difícil vocabulário acadêmico no qual os cientistas estão imersos, a inacessibilidade da ciência também é algo que abre espaço para que discursos anti-científicos sejam levados em frente. Um estudo recente realizado pelo Centro de Gestão em Estudos Estratégicos (CCGE) e pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), mostrou que 61% dos brasileiros entrevistados no estudo têm interesse em ciência e tecnologia, no entanto, 87% dentre os entrevistados não souberam o nome de nenhuma instituição científica do país, enquanto que 94% não sabem o nome de sequer um cientista brasileiro. Diante deste fato, a pergunta que fica é: onde está a ciência? Ou melhor, qual é o lugar dela? Com toda certeza, não é apenas restrita a universidades e centros de pesquisas. A ciência é da população, é das ruas, e é das massas, é necessário disseminá-la, tornando-a acessível e inteligível às pessoas que não tiveram chance de estar no meio acadêmico. Enquanto a ciência se restringir apenas a academia, discursos anti-científicos como o Terraplanismo, movimento anti-vacina e eficácia da cloroquina contra a COVID-19, serão aceitos e difundidos como verdade.

Tendo em vista o supracitado e pensando no Movimento Iluminista, conclui-se que o uso da razão, o qual foi tão difundido durante o século XVIII na Europa, aos poucos vêm sendo enfraquecido, isso porque, o cenário hodierno prioriza a facilidade e fluidez da disseminação de notícias e informações, fazendo com que vivenciemos a Era das Fake News. A internet desencadeou muitas coisas nos dias atuais e dentre essas coisas temos a morte da verdade e isso se dá pelas distorções da realidade pois muitos assuntos são polarizados e suas explicações são claras e vão direto ao ponto, diminuindo as chances de serem refutadas.

Tomando como exemplo a escrita da primeira enciclopédia (Dictionnaire raisonné des sciences, des arts et des métiers), e considerando os empasses para que o conhecimento fosse disseminado, uma vez que a Igreja e o Absolutismo não concordavam com tal ato, é possível criar uma analogia para o Terraplanismo, isto é, a enciclopédia representaria a ciência e o Terraplanismo a Igreja e o Absolutismo. Desta forma, é melhor compreendido que ideias tais quais o terraplanismo, dão força a movimentos os quais descartam quase que completamente todo o avanço científico e racional obtido durante todos estes séculos, em foco, o século XVIII, ou Século da Luz. Por este motivo, cabe-se dizer que o Terraplanismo é um movimento anti-iluminista e que estamos vivendo uma crise da ciência.

Argumentação a favor do terraplanismo

Dentre os argumentos a favor do terraplanismo podemos citar a incapacidade de detectar ou medir de alguma forma o giro da Terra até 1.600 quilômetros por hora na direção leste, essa incapacidade fica evidente dos seguintes exemplos:

Balas de canhão disparadas verticalmente e outros projéteis devem cair significativamente para oeste, mas não caem, eles vêm direto para baixo.

Helicópteros e balões de ar quente devem ser capazes de simplesmente pairar e esperar que seus destinos aparecem abaixo deles conforme a Terra gira.

A rotação da Terra deve alterar significativamente os tempos de voo dos voos do leste e do oeste, mas na realidade há pouca diferença nos tempos de voo.

Outro argumento a favor do terraplanismo seria o experimento do Pêndulo de Foucault, a mesma teoria usada para defender a rotação da Terra, porém sendo usada para justamente provar o contrário. Com uma análise profunda do experimento é observável que o pêndulo não balança uniformemente em uma direção. Apresentando inconsistência com o giro do pêndulo, às vezes ela gira no sentido horário, outras vezes no sentido anti-horário ou gira muito, ou então nem gira. Sendo assim, para concluir que a rotação da Terra é completamente inconsequente e irrelevante para o balanço do pêndulo, devemos considerar que para o pendulo funcionar deve haver um impulso inicial e o soquete da bola que pode facilitar ou dificultar o giro. Ou seja, se a suposta rotação constante da Terra afeta os pêndulos, eles deveriam iniciar o movimento sem a necessidade de outra ação externa. E se a rotação diurna da Terra causou a rotação diurna uniforme de 360 graus do pêndulo, então não deveria existir um pêndulo parado em qualquer lugar da Terra.

A favor do terraplanismo, como dito anteriormente, o experimento Oldbedfort foi realizado por Rowbotham. Segundo o autor, ao se posicionar em um local a 0,20 m acima do nível do rio, acompanhado pelo seu telescópio, seria possível observar a curvatura da Terra, a partir de um barco com uma bandeira em seu mastro, à 0,91 m acima da água, o qual percorre 9,7 km e a altura dessa bandeira seria diferente da inicial. Sua hipótese de que a Terra é plana foi confirmada quando a bandeira continuou na mesma altura durante o percurso, desmentindo a curvatura do planeta. A Terra não é um globo ele afirmava. Sob o pseudônimo “Paralaxe”, o inventor inglês resolveu desmistificar e revelar as “mentiras” cultivadas pela ciência, responsável por esconder o real formato da Terra, então ele começa sua obra tentando refutar o próprio Eratóstenes.

O experimento de Eratóstenes consistia em fixar em terra duas estacas de madeira, uma em Siena e outra em Alexandria. No primeiro dia de Verão na cidade de Siena o Sol ao meio-dia estaria na vertical da cidade e considerando a perpendicularidade do Sol não houve projeção de sombra, enquanto em Alexandria no mesmo dia e à mesma hora, houve a projeção de sombra, o que possibilitou o calculo de inclinação da mesma. Utilizando seus conhecimentos, calculou o ângulo formado entre a sombra e a estaca, e utilizando o comprimento de ambas obteve 7,2 graus, além disso, dividiu o valor obtido por 360 graus equivalente a uma circunferência o que daria 50 frações iguais à medida da distância entre Alexandria e Siena. Então, multiplicando a distancia das cidades pelas 50 frações iguais foi obtido a estimativa da medida do contorno de toda a Terra, equivalente a 40.000 km. Para chegar a esta conclusão, Eratóstenes observou que se podia encarar os raios luminosos provenientes do Sol como sendo linhas paralelas.

No entanto, de acordo com Rowbotham, o experimento do filósofo era contraditório e para provar que ele estava errado foi sugerido outro experimento, ele criou um modelo teórico, no qual o Sol tem seu tamanho reduzido e está próximo da Terra, ele seria uma bola de fogo a alguns quilômetros acima das nossas cabeças. Isso permitia, segundo suas contas, que a Terra fosse plana.

Além disso, a fim de embasar suas afirmações, os terraplanistas criaram uma espécie de maquete que explica o funcionamento da dinâmica terrestre e sua relação com a Lua e com o Sol:

Ademais, a terra é uma “torta” azul gigante, o sol e a lua giram em cima dela, e devido às diferente alturas e níveis que o sol gira, a temperatura e o clima são diferentes para lugares diferentes. Acima da terra, do sol e da lua, há uma cúpula hemisférica transparente que cobre toda a superfície da atmosfera e evita que o ar saia. Dentro dessa cúpula, o polo norte está no centro e é cercada por todos os outros continentes, mas a Antártida é apenas um muro de gelo que fica ao redor deles, e ele só existe para evitar que a água do mar flua. Alem disso, dentro de todas as planetas do universo, apenas a terra apresenta seres vivos justamente porque ela é plana, que os animais conseguem ficar em pé e se reproduzem.

No que tange ao tema Estações do ano, o Heliocentrismo é falho na visão dos Terraplanistas, pois o Sol terraplanista em seu trânsito sobre o Trópico de Capricórnio, em altitude mais baixa, determina o Verão na região Sul e, por conseguinte o Inverno na Região Norte. Já quando o Sol terraplanista está seu deslocamento sobre o Trópico de Câncer, em altitude mais alta, ele determina o Verão na região Norte e consequentemente o Inverno na região Sul. O estágio transitório do Sol terraplanista entre o seu circuito mais próximo à Antártida, Equador e o seu circuito mais próximo à região do Ártico determinam o Outono e a Primavera ao longo das regiões do círculo terrestre.

Entre os fenômeno naturais, o fluxo dos rios que seguem do sul para o norte também é utilizado para embasar a teoria da Terra plana. Segundo os adeptos da teoria, caso a terra fosse redonda seria impossível que esses rios seguissem seu curso, pois devido a curvatura da terra eles deveriam ganhar uma altitude superior a altitude de sua nascente, contrariando o Princípio de que os corpos tendem a ir para o lugar de menor energia. Esta teoria é ilustrada utilizando o exemplo do Rio Nilo, representado na figura abaixo.

Para os defensores do Terraplanismo seria impossível que o Rio Nilo seguisse seu curso natural pois o ganho em altitude H2 seria na ordem de 1000 km, muito superior aos 2,7 km de altitude onde está localizada sua nascente, o contraria a lei da Gravidade, o problema desta teoria está na direção e no sentido da Força da gravidade. Nesta representação a gravidade está erroneamente representada na horizontal para baixo, mas o correto segundo a mecânica clássica de Newton ela deveria estar representada como uma vetor em direção ao centro de massa do corpo como representado na figura.

No livro “200 Proofs Earth Is Not a Spinning Ball” o autor apresenta a mesma teoria porém ele faz algumas modificações para tentar corrigir o erro na representação da Gravidade, segundo o autor ainda é impossível que rios, como Nilo, Paraná, Congo e Mississipi façam seu trajeto atual em planeta redondo pois em muitas pontos de seu curso eles estariam alcançando altitudes muito superiores a sua nascente. Para provar sua teoria o autor utilizou a curvatura da terra, como ilustrado na figura abaixo.

O autor argumenta que o Rio Mississippi em seu curso de 3.730 Km seria necessário ascender 17,7 Km antes de chegar ao Golfo do México, ou seja o Rio ganharia energia potencial Gravitacional ao longo de seu trajeto.

Bezerra (2020), descreve um vídeo onde uma mulher com uma régua em mãos a posiciona paralela a linha do oceano ao horizonte. Por fim, a mulher conclui dizendo que não há curvas, que a terra é plana e assim a teoria da terra bola cai por terra.

Pseudociência e Pós-Verdade

Trata-se de uma reivindicação de crenças ou práticas que se apresentam como ciência, aderem observações, hipóteses, previsões, experimentos e revisões, porem não utiliza o principal fator que comprova uma teoria, o método cientifico.

Método Cientifico é basicamente constituído pela observação de um fenômeno, após essa observação é feita uma formulação de hipóteses, que por sua vez gera a teoria (conjunto de leis e ideias) em seguida são realizados experimentos plausíveis que comprovam a teoria. Este é o modo como a ciência trabalha . Quanto a Pseudociência, suas observações baseiam-se em crenças e é frequentemente caracterizada pelo uso de afirmações vagas, exageradas ou improváveis, que defende uma confiança excessiva de confirmação , em vez de tentativas rigorosas de refutação. Seus experimentos são frequentemente improváveis ou impossíveis quando submetido a ciência de senso comum.

Para a ciência é necessário que a hipótese seja falível, ou seja ,se houver uma situação em que os resultados esperados e o comportamento difere do previsto a hipótese pode ser considerada falsa o que não ocorre na pseudociência, mesmo quando experimento pseudocientífico não coincidem com suas previsões, ainda assim adeptos da hipótese acreditam fielmente e dogmaticamente em sua veracidade , outra forma comum de resistência revisão de hipótese é a formulação de teorias conspiratórias. A ciência baseia-se em fatos e os prova, a pseudociência baseia-se em dogmas e teorias improváveis pela ciência.

Já o conceito de “Pós-verdade” é definido pelo Oxford Dictionaries como “circunstância nas quais fatos objetivos são menos influentes na formação da opinião pública do que o apelo à emoção e à crença pessoal”. Em outras palavras, a pós verdade, consiste na popularização das crenças falsas e na facilidade para fazer com que os boatos prosperem, por sua vez esses boato considerados verdade absoluta, conflitam com ponto de vista real, pondo em duvida o que é realmente verdade ou mentira, seria como uma espécie de “fofoca morderna” vinculada comumente em redes socias que utilizam algoritmos para replicação dessas informações tornado-as cada vez mais visíveis e suscetível a crença. A Pós verdade e a Pseudociência estão basicamente interligadas.

Nestes últimos tempos tem se notado um extensivo crescimento de discussões acerca dos chamados “movimentos anti-intelectuais”. Assim, não tem sido estranho presenciar o surgimento e avanço de discussões defendendo o terraplanismo. Para tanto, a internet tem facilitado essas transmissões de ideias sobre a concepção de que a Terra na verdade seria plana e que a ciência não estaria cumprindo seu propósito original pela busca do conhecimento e da verdade, sendo corrompida por ideologias políticas e econômicas, movida pelos interesses das grandes potências mundiais, a fim de controlar todos os setores e inclusive a sociedade. Na realidade, esta concepção está associada com outras ideias em conflito com o conhecimento científico atual, causando o que chamamos de crise na academia e avanço das pseudociências, proporcionadas pelo exacerbado negacionismo científico. Aplicando assim, o conceito de pós-verdade a vertente, em que se assume as circunstâncias dos fatos tratados como menos influentes na formação da opinião pública do que emoções e crenças pessoais, de modo a buscar uma valorização do descobrimento pessoal.

Este crescimento de movimentos anticientíficos torna-se um produto direto do período atual - da globalização - que, através da instantaneidade de informações globais (SANTOS, 2006) difundem-se não mais apenas localmente e, de certo modo, demorado, mas sim, agora, de maneira global e muito mais rápida, disputando consensos na sociedade que, muitas vezes, são para usos políticos, tornando-se uma ferramenta para a manutenção do poder hegemônico.

É importante ressaltarmos, também, que a pseudociência não difere-se da ciência apenas pelo não fazer acadêmico, mas, também, como destaca LIMA (2010): “Uma verdadeira ciência deve estar sempre aberta a novas investigações e debates, enquanto que as pseudociências tendem a afirmações marcadas por certezas ou dogmas. Ainda, as teorias genuinamente científicas são aproximações da verdade, e jamais “a verdade”. Não existem certezas absolutas na ciência, mas discussão sistemática e pluralista sobre problemas reais ou abstratos”

Refutação científica

A melhor resposta científica para incapacidade de detectar ou medir de alguma forma o giro da Terra e sua velocidade é explicada com a gravidade, que puxa toda a atmosfera e tudo aquilo que está na atmosfera, incluindo as bolas de canhão, as borboletas, balões de ar quente e helicópteros, tudo gira na mesma velocidade que a Terra. Então, Como tudo está se movendo ao mesmo tempo, a 1600 quilômetros por hora, dá a ilusão de que não há movimento. E Por causa da Lei da Inércia o planeta Terra gira a uma velocidade constante de 1.675 km/h, todos nós estamos girando com ele, há milhões de anos, na mesma velocidade angular e na mesma direção. Quando um corpo celeste se forma, ele se compõe de vários objetos menores que juntam-se graças à força da gravidade. E como esses elementos estão em agitação constante, os corpos celestes guardam dentro de si essa quantidade de movimento de seus formadores. A movimentação acumulada se traduz na chamada rotação, já que de todos esta é a forma de menor gasto, uma vez que os corpos obedecem a lei de conservação de energia.

Alguns terraplanistas acreditam que não existe gravidade, e defendem a teoria da densidade, a qual justifica o fato de não afundarmos como consequência direta de sermos menos densos que a água. Porém há uma parcela de simpatizantes do movimento terraplanista, que acredita na lei da gravidade, porém o centro da terra plana seria o ponto de atração, ou seja, existiria uma força agindo sobre os corpos com uma resultante em direção ao centro. Na teoria, se algum objeto estivesse localizado exatamente em cima desse ponto, não haveriam problemas, porém a medida que nos distanciamos desse marco, o ângulo da força resultante aumentaria em relação a normal. Desse modo, para que os prédios e construções se sustentassem seria preciso construí-los de maneira inclinada de acordo com o ângulo da força resultante. Então, a medida que nós nos aproximássemos das bordas observaríamos estruturas civis cada vez mais inclinadas, pois esse seria o único modo de sustentação. Essa explicação pode ser simplificada ao imaginarmos um equilibrista em cima de uma corda, quando ele se encontra no centro da corda bamba a força da gravidade forma um ângulo de noventa graus em relação a superfície onde ele se sustenta. Porém ao se aproximar da beirada da corda, a força de atração se intensificaria com o sentido para o centro.

De acordo com o professor, escritor do livro Conspiração Terra Plana e pesquisador autodidata, Ricardo Max, uma maneira extremamente simples de comprovar a esfericidade do planeta Terra é através da observação das constelações, as quais mudam de posição em relação ao horizonte. Portanto, um observador no hemisfério norte irá enxergar diferentes posições das estrelas em relação ao hemisfério sul. Ainda comparando posições terrestres, outro ótimo exemplo são os fusos horários, os quais não seriam possíveis em um planeta que recebe a mesma luminosidade ao mesmo instante e como consequência não possuiríamos as diversificações das estações do ano.

Já a resposta que podemos dar ao experimento de Rowbotham é que nele não foi levado em conta a refração da luz. A refração da luz pode causar um efeito conhecido como looming no qual a imagem dos objetos aparece elevada de sua posição original podendo até mesmo nos fazer ver objetos que estão abaixo da linha do horizonte. Assim, temos uma explicação para o resultado que Rowbotham obteve. Dessa forma, teremos um resultado melhor se encontrarmos um meio de diminuirmos ou até mesmo anularmos os efeitos da refração. Foi o que o cientista Alfred Russel Wallace fez. No mesmo rio onde foi realizado o experimento de Rowbotham, Wallace fez um outro experimento. Nele, o cientista posicionou um pano com uma faixa preta na ponte do rio a 4 metro da superfície da água, um telescópio (a 9,7km de distância do pano) também a 4 metros em relação a água do rio, e um poste (posicionado na metade da distância entre o telescópio e o pano) com dois círculos vermelhos: um a 4 metros de altura e outro a 3 metros de altura da água. Dessa forma se a terra fosse plana, o círculo de cima tamparia a faixa preta para o observador do telescópio. Porém, ao posicionar os elementos do experimento a 4 metros de altura do rio, Wallace diminuiu os efeitos da refração e o resultado obtido foi que a faixa preta apareceu abaixo do segundo círculo, mostrando assim que existia uma curvatura.

Lá pelos meados dos anos oitenta, o programa Cosmos, apresentado então pelo renomado Astrônomo e Astrofísico Carl Sagan, demonstrou como um experimento antigo utilizando hastes de madeira, olhos, pés, geometria e o prazer da experimentação demonstrou a curvatura da Terra. Sagan relembrou Eratostenes de Cirene, matemático, geógrafo ,astrônomo e membro da famosa biblioteca de Alexandria, um dos maiores centros de produção de conhecimento da antiguidade. Observou certo dia durante o equinócio de verão a ausência de sombras nos obelisco da cidade de Siena ao sul de Alexandria, estando o sol no Zênite, ou seja uma posição imaginária em que o sol estaria no centro do céu, logo acima de sua cabeça, concluiu que a incidência de luz solar seria perpendicular sobre a superfície. Eratostenes esperou o mesmo dia de equinocio para fazer um experimento simples que poderia comprovar se a terra seria plana. Entretanto o mesmo experimento feito simultaneamente nas cidade de Alexandria e Siena não demonstrou a semelhança necessária para comprovar tal idéia, observou que em Alexandria ao norte de Siena o experimento da haste fincada ao solo demonstrou a presença de sombra projetada no mesmo horário estipulado para o Zênite.

Tendo em poder o comprimento da sombra projetada pela haste fincada ao solo, conhecimento de geometria, calculou o ângulo de incidência de luz aproximadamente 7 gráus, aproximadamente 1/50 de uma circunferência Como já conhecia a distância entre Alexandria e Siena (aproximadamente 800 km nos dias atuais, devido ao grande fluxo de caravanas) conseguiu calcular o perímetro da terra (errando por 75 quilômetros).

Para o caso do fluxos dos rios retratado por no livro[1] Novamente o erro desta teoria está na representação da gravidade que está novamente apontada na vertical para baixo, como ilustrado abaixo

Utilizando a Energia potencial gravitacional podemos provar que os pontos A, B e C têm o mesmo potencial gravitacional.

A equação abaixo nos fornece a intensidade da energia gravitacional em um determinado local.

Onde: Ep: Energia potencial gravitacional [J] G: Constante gravitacional universal [m³ /(kg¹ s²)] M: Massa do Corpo 1 (Terra) [Kg] m :Massa do Corpo 2 (água) [Kg] D: Distância entre o centro de massa do Corpo 1 e o centro de massa do corpo 2 [m]

Como notado G, M e m são constantes e a distância entre centros de massas é a única que pode sofrer alterações. Porém quando consideramos que a terra tem um formato esférico, todos os pontos da superfície tem a mesma distância para o centro. Essa distância é conhecida como raio R, logo como G, M, m e D dos pontos A, B e C são idênticos então podemos provar que os 3 pontos são equipotenciais concluindo que a curvatura da terra não tem relação direta com o curso do rios, os mesmos são influenciados principalmente pelo relevo de sua localização.

Segundo os terraplanistas, se a Terra fosse uma esfera, então, os rios e lagos deveriam ter uma curvatura e não estarem nivelados, porém, estão nivelados em relação a uma superfície esférica com raio de curvatura de 6,4 mil quilômetros e não em relação a uma superfície plana. Para pequenas distâncias, a curvatura da Terra e, por extensão, da superfície das águas, pode ser desprezada, mas conforme aumentam as dimensões ela se torna evidente. Trazendo isso para a realidade podemos utilizar o exemplo, notado pelos gregos em 500 a.C., de um navio no oceano, onde à medida que este se afasta, do ponto de observação, vai sendo “engolido” pela linha do horizonte, desaparecendo primeiro seu casco, depois o mastro e a vela até perdê-lo de vista comprovando a existência de uma curvatura. Se a terra fosse rigorosamente plana, os efeitos citados não aconteceriam, pois o navio ficaria menor à medida que se afastasse, mas nunca desapareceria. Semelhante a isso no modelo do Terraplanismo, o sol está orbitando sempre acima da face do planeta e isso entra contradição com o fato de diariamente vermos o sol cruzando a linha do horizonte ao nascer e ao se por, se a Terra fosse plana, ele não desapareceria.

Além dos argumentos de refutação utilizados acima, é possível rebater diversas vertentes e teorias relacionadas ao terraplanismo por meio do processo de formação das estações do ano. Esse fenômeno é uma consequência direta da inclinação da terra em relação ao seu próprio eixo e o movimento de translação na rota elíptica ao redor do Sol. Em uma determinada época do ano a incidência dos raios solares é maior no hemisfério sul em comparação ao hemisfério norte. Porém após seis meses, ou seja, metade do movimento de translação, a situação se inverte e temos uma incidência inferior de raios solares no hemisfério sul em relação ao hemisfério norte, desse modo obtemos diferentes estações do ano para as diferentes posições da Terra em relação ao Sol. Todavia, segundo o modelo dos terraplanistas, essa inclinação não existiria e o sol iluminaria o planeta por igual. Porém, caso o Sol realmente iluminasse a Terra toda de maneira uniforme, não haveriam estações do ano pois a incidência solar seria igual em ambos os hemisférios. Além disso, não existiria um fuso horário entre regiões de diferentes longitudes, desse modo o nascer e o pôr do sol aconteceriam exatamente no mesmo horário em lugares extremamente distantes, como por exemplo Brasil e Japão.

Referências

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[2]https://super.abril.com.br/mundo-estranho/por-que-nao-sentimos-a-terra-girar/#:~:text=Por%20causa%20da%20Lei%20da,angular%20e%20na%20mesma%20dire%C3%A7%C3%A3o.&text=Seria%20o%20mesmo%20se%20a,voando%2C%20pois%20continuar%C3%ADamos%20em%20movimento.

[3]https://flatearthfacts.com/flat-earth-model/proof-the-earth-is-flat/scientific-experiments-prove-flat-earth/

[4]https://www.dgabc.com.br/Noticia/1482265/por-que-a-terra-gira

[5]https://books.google.com.br/books?hl=en&lr=&id=F1LzDwAAQBAJ&oi=fnd&pg=PT197&dq=pseudoscience+and+post-truth+flat+earth&ots=-Emth7I_3p&sig=17109S1TAAB8QVm0nYG1Z_jeCMY&redir_esc=y#v=onepage&q&f=false

[6]https://www.youtube.com/watch?v=UjC4Sz4uYic

[7]https://www.youtube.com/watch?v=XH1ITfddsrM

[8]http://revistaquestaodeciencia.com.br/index.php/apocalipse-now/2019/06/29/terraplanismo-e-evidencia-dos-sentidos

[9]https://medium.com/s/world-wide-wtf/how-the-internet-made-us-believe-in-a-flat-earth-2e42c3206223

[10]https://www.bbc.com/reel/video/p07h3yc0/flat-earth-how-did-youtube-help-spread-a-conspiracy-theory-

[11]http://brasil.planetasaber.com/theworld/monographics/seccions/cards/default.asp?pk=3540&art=39

[12]https://youtu.be/cHHxxcH_T6o

[13]https://youtu.be/nEVPDqUb5dM

[14]http://www.each.usp.br/rvicente/TADI04_CienciaPseudociencia.pdf

[15]https://pt.wikipedia.org/wiki/Pseudoci%C3%AAncia

[16]https://pt.wikipedia.org/wiki/Teoria

[17]https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1518-76322020000200239

[18]https://www.comciencia.br/falsa-ciencia-e-pos-ciencia/#more-2933

[19]https://revistagalileu.globo.com/Ciencia/noticia/2017/03/carl-sagan-mostra-como-gregos-antigos-ja-sabiam-que-terra-era-redonda.html

[20]https://observadorcriticodasreligioes.wordpress.com/2020/01/05/o-charlatanismo-astronomico-dos-terraplanistas/

[21]ARISTÓTELES. On the heavens. Tradução: GUTHRIE, W. K. C.. London: Loeb Classical Library, 1939.

[22]SANTAELLA, Lucia. A pós-verdade é verdadeira ou falsa?. Editora estação das letras e cores, 2018.

[23]SWEATMAN, M. B.; COOMBS, A. Decoding European Palaeolithic Art: Extremely Ancient knowledge of Precession of the Equinoxes. Athens Journal of History. v. 5, n. 1, p.1-30. 2019. Disponível em:

[24]https://doi.org/10.30958/ajhis.5-1-1. Acesso em: 28 Out. 2020.

[25]https://periodicos.utfpr.edu.br/rbgeo

[26]https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-40142006000300022

[27]https://paulosampaio.blogosfera.uol.com.br/2019/11/12/a-ignorancia-e-uma-bencao-diz-palestrante-da-1a-convencao-da-terra-plana/

[28]Max, R. Conspiração Terra Plana. 2ª edição. São Paulo: 2017.

[29]https://www.ifi.unicamp.br/~lunazzi/F530_F590_F690_F809_F895/F809/F809_sem2_2002/940298_AndreVinagre_Eratostenes.pdf

[30]https://www.unicamp.br/unicamp/ju/noticias/2017/09/25/pesquisa-revela-que-brasileiro-gosta-de-ciencia-mas-sabe-pouco-sobre-ela

[31]https://epoca.globo.com/o-que-movimento-dos-terraplanistas-nos-ensina-23538845

[32]https://www.terra.com.br/noticias/educacao/voce-sabia/voce-sabia-a-igreja-reconheceu-que-errou-ao-condenar-galileu,400811f48735b310VgnCLD200000bbcceb0aRCRD.html

[33]https://www.estudopratico.com.br/santa-inquisicao-da-igreja-catolica/

[34]https://wiki.tfes.org/Charles_K._Johnson

[35]https://www.smithsonianmag.com/smart-news/curious-history-international-flat-earth-society-180957969/

[36]https://trends.google.com.br/trends/explore?date=2010-10-29%202020-10-29&q=terra%20plana

[37]BEZERRA, Roberto. A TERRA PLANA É AQUI. Revista X, v. 15, n. 4, p. 21-29, 2020.

[38] SANTOS, Milton. Por uma outra globalização – do pensamento único à consciência universal. Rio de Janeiro: Record, 2006.

[39] LIMA, Raymundo de. Ciência, pseudociência e o fascínio popular. Revista Espaço Acadêmico, 2010.

[40]https://revistagalileu.globo.com/Ciencia/noticia/2017/09/7-fatos-cientificos-que-provam-que-terra-nao-e-plana.html

[41]https://www.bbc.com/portuguese/curiosidades-50823002


1. a DuBay E. (2018). «200 Proofs Earth Is Not a Spinning Ball». Createspace Independent Publishing Platform, 1ª Edição. 42p.
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